KOCH, I.V. e ELIAS, M.V.
Ler e Compreender os Sentidos do Texto.
São Paulo, Editora Contexto,2010.
O livro intitulado Ler e Compreender os
Sentidos do Texto foi produzido por duas linguistas brasileiras. Um das
autoras, Ingedore Villaça Koch é uma das mais conceituadas autoras do Brasil de
obras de língua portuguesa e lingüística. Koch é doutora em língua portuguesa e
disserta a respeito principalmente sobre temas como: coerência textual, coesão
textual, interação pela linguagem, texto e construção dos sentidos e
compreensão textual. Já Vanda Maria Elias, a co-autora do livro, é doutora em
língua portuguesa pela PUC-SP e debruça-se também sobre estratégias de produção
escrita. Koch
e Elias (2010) abordam na
obra Ler e Compreender os Sentidos do Texto a relação entre as teorias
linguísticas e práticas didáticas envolvidas no processo de leitura e
compreensão textual. Aqui, analisaremos apenas o capítulo 1 denominado pelas
autoras de Leitura, Texto e Sentido. A obra também discute as principais
estratégias que os leitores têm à sua disposição para a construção de sentidos. Inicialmente,
Koch e Elias definem quais são as concepções de leitura tomadas como referência
para o estudo da leitura e compreensão textual da obra. Pois, para entendermos
os processos de compreensão textual é necessário estabelecermos um
posicionamento bem definido acerca dos conceitos norteadores da língua. Dessa forma, Koch e Elias definem inicialmente
o que é entendido como texto:
...este livro toma como
pressuposto básico a concepção de que o texto é lugar de interação de sujeitos
sociais, os quais, dialogicamente, nele se constituem e são constituídos; e
que, por meio de ações lingüísticas e sociocognitivas, constroem
objetos-de-discurso e propostas de sentido, ao operarem escolhas significativas
entre as múltiplas formas de organização textual e as diversas possibilidades
de seleção lexical que a língua que lhes põe a disposição. (KOCH e ELIAS, 2010,
p.7)
A partir desse conceito de texto,
podemos refletir as diversas formas de trabalhar a leitura e a compreensão.
Porém, antes de chegarmos nessa reflexão é necessário a partir de uma prévia
ponderação o entendimento de qual visão de texto está sendo compreendida em
exercícios de aula de línguas, por exemplo, ou em qualquer outro contato com a
pedagogia lingüística de maneira geral. A
primeira parte do capítulo Leitura, Texto e Sentido traz à tona um conceito que
ainda não mencionamos: sujeito. Além
do sujeito, Koch e Elias (2010) iniciam o capítulo enfatizando a importância
das concepções de língua e texto que se refletirão na atividade de definir o
que pode ser entendido como leitura. Posteriormente,
Koch e Elias fazem um apanhado histórico das influências que os conceitos
teóricos de língua exercem sobre o conceito de sujeito. Na primeira concepção
Koch afirma que à concepção de língua como representação do pensamento
“corresponde à de sujeito psicológico, individual, dono de sua vontade e de
suas ações” (Koch e Elias, p.9). Nesse
pensar a língua, ela era tida como uma representação do pensamento e/ou uma
estrutura de pensamento. Desse modo, desvincula-se a língua de seus aspectos
mais importantes – histórico e social. Nessa perspectiva, o sujeito-autor
exerce total domínio sobre o sentido do texto, sendo assim, um pensamento bem
representado produzia, certamente, um texto bem compreendido. Tornando nula a
participação do sujeito-leitor na construção do sentido. Dessa maneira, o texto aparece apenas como
uma expressão do pensamento. Na segunda concepção exposta em Ler e Compreender os
Sentidos do Texto há um foco no próprio texto, de um ponto de vista estruturalista.
Ou seja, é dado um grau de importância maior ao texto, assim, automaticamente
desprezam-se as relações que podem ocorrer entre o leitor e o autor com o texto,
ou até mesmo da relação leitor-autor. Nesse caso, a língua é vista como um
código. Assim, a leitura é “... uma atividade que exige do leitor o foco no
texto, em sua linearidade, uma vez que ‘tudo está dito no dito” (Idem, p.10),
então podemos perceber que se o foco da concepção anterior de língua era o
autor, o foco da língua como código é o próprio código.
Ainda
sobre a visão de língua como código, Marcuschi postula:
“quanto à perspectiva que trata a língua como instrumento, a posição não parece razoável pelo fato de não atingir nenhum nível de abstração desejável pelo fato de desvincular a língua de suas características mais importantes, ou seja, seu aspecto cognitivo e social. Além disso, tem como conseqüência a idéia de que a língua é um instrumento transparente e de manuseio não problemático. A compreensão se torna algo objetivo e a transmissão de informações seria natural. Essa perspectiva é pouco útil, mas muito adotada, em especial pelos manuais didáticos, aos tratarem os problemas da compreensão textual. Essa posição é muito comum nas teorias de comunicação em geral. É uma das visões mais ingênuas.” (MARCUSCHI,2008, p.60)
Essas
concepções devem ser bem definidas para que cheguemos ao conceito de língua de
um prisma interacionista. Nesse prisma, “os sujeitos são vistos como
atores/construtores sociais, sujeitos ativos que – dialogicamente- se construem
e são construídos no texto” (KOCH
e Elias, p.12) Então, o sentido do texto passa a ser construído pelo
homem social, pois o texto é resultado de um constructo da relação do eu com o
outro. Percebemos, então, um grau de responsabilidade mutável e negociável
entre quem lê e entre quem produz algo passível de leitura. Nesse
momento, Koch e Elias em Ler e Compreender os Sentidos do Texto dão destaque
aos Parâmetros Curriculares Nacionais[2] de
Língua Portuguesa que reforçam o papel do sentido como algo construído pelo
leitor fazendo uso de estratégias, como: seleção, antecipação, inferência e
verificação. As
estratégias de leitura ganham certa relevância no livro de Koch e Elias. Essas
estratégias servem para que o leitor ao ler um texto procure criticar,
contradizer, avaliar o texto, sobretudo que atribua sentido e significado ao
que se lê. Elas podem ser realizadas por etapas como as “antecipações” e
“hipóteses” baseadas no autor do texto lido; no meio de veiculação do texto; no
gênero textual; no título e na distribuição e configuração de informações no
texto.
Na
relação entre autor-leitor, o conhecimento dos elementos linguísticos como o uso
de determinadas expressões, léxico antigo compõem o que Koch e Elias chamam de
fatores de compreensão da leitura. Segundo Koch e Elias(2010), apesar dos
fatores serem complexos e inter-relacionados, às vezes podem interferir de
maneira significativa no processo de compreensão.
Podemos
perceber a importância desses fatores de compreensão principalmente como uma
forma de entendimento dos processos de intergenericidade[3] e
intertextualidade[4].
Pois quando nos deparamos com esses dois casos, temos a tendência de refletir
um pouco mais sobre a construção textual em questão. No livro, há um exemplo no
qual esses fatores que são vistos de maneira minuciosa. De acordo com as
autoras, algumas construções textuais são tão específicas que nos levam a
denominar de código específico. O texto do gênero bula é usado como amostra
para uma análise de como os fatores de compreensão na relação autor-leitor pode
influenciar no constructo de sentido de um texto. Por
fim, o primeiro capítulo de Ler e Compreender os sentidos do texto aborda o
conceito circunstancial de um texto. Aqui, entra em cena o conceito de
contexto. Contexto são circunstâncias que inevitavelmente interferem na
produção do sentido. Segundo a obra, há circunstâncias da escrita denominadas
de contexto de produção circunstâncias da leitura(contextos de uso). Alguns
linguísticas dão ao contexto um papel de protagonista na interpretação de
textos. Segundo M.Dascal E E. Weizman (apud Marcuschi,2008,p.249) essa visão de
contexto como papel central na interpretação é amplamente aceito. Ainda de
acordo com esses teóricos, as informações contextuais são divididas em duas
vertentes: extralinguística e metalingüística. Ler e
Compreender os Sentidos do Texto, de maneira objetiva e didática traz nas
observações sobre o contexto um exemplo de texto lido num lugar muito distante daquele em que foi escrito.
Assim, percebemos com mais ênfase a importância do contexto/contextualização.
Ainda de acordo com Koch e Elias(2010), o conceito de contexto nos leva a perceber que o mesmo texto pode ser reescrito de muitas formas, Dessa forma, o contexto também tem função base no processo de compreensão textual, pois também influência no sentido do texto. Todas essas reflexões nos levam a um novo entendimento no processo de compreensão textual, porém Koch e Elias(2010) defendem esse processo baseando-se de maneira exacerbada no leitor. Sobre essa questão, é necessário destacar um pensamento: O leitor tem uma função de grande importância no processo de compreensão textual e sabemos que para ler é necessária uma intensa participação dele. Porém, não podemos cair no extremo oposto do que já foi pensado anteriormente: foco no leitor. Assim como foi um equívoco pensar que o texto ou o autor é dono do sentido, também é um engano conceber esse leitor como dono do sentido. O sentido do texto é um jogo sobre o qual obrigatoriamente e simultaneamente operam os três autor-texto-leitor e esse deve ser nosso foco quando tratamos de um tema tão complexo como o da compreensão e produção textual.
Ainda de acordo com Koch e Elias(2010), o conceito de contexto nos leva a perceber que o mesmo texto pode ser reescrito de muitas formas, Dessa forma, o contexto também tem função base no processo de compreensão textual, pois também influência no sentido do texto. Todas essas reflexões nos levam a um novo entendimento no processo de compreensão textual, porém Koch e Elias(2010) defendem esse processo baseando-se de maneira exacerbada no leitor. Sobre essa questão, é necessário destacar um pensamento: O leitor tem uma função de grande importância no processo de compreensão textual e sabemos que para ler é necessária uma intensa participação dele. Porém, não podemos cair no extremo oposto do que já foi pensado anteriormente: foco no leitor. Assim como foi um equívoco pensar que o texto ou o autor é dono do sentido, também é um engano conceber esse leitor como dono do sentido. O sentido do texto é um jogo sobre o qual obrigatoriamente e simultaneamente operam os três autor-texto-leitor e esse deve ser nosso foco quando tratamos de um tema tão complexo como o da compreensão e produção textual.
REFERÊNCIA ADICIONAL
MARCUSCHI,L.A.
2008. Produção Textual, Análise de
Gêneros e Compreensão. São Paulo, Parábola.
[1] Aluno da Universidade Federal de Pernambuco,
Campus Recife, cursando Licenciatura em Letras/Espanhol na Universidade Federal
de Pernambuco.
[2]
Criados em 1996, os
Parâmetros Curriculares Nacionais são referenciais de qualidade elaboradas
pelo Governo Federal para nortear as equipes escolares na execução de seus
trabalhos. Os PCN´s foram elaborados para difundir os princípios da reforma
curricular e orientar os professores na busca de novas abordagens e
metodologias. Eles traçam um novo perfil para o currículo, apoiado em
competências básicas para a inserção dos jovens na vida adulta; orientam os
professores quanto ao significado do conhecimento escolar quando
contextualizado e quanto à interdisciplinaridade, incentivando o raciocínio e a
capacidade de aprender.
[3]
Intergenericidade é o fenômeno lingüístico que apresenta confluência de dois ou
mais gêneros em um só texto.
[4]
Intertextualidade é a relação que se estabelece entre dois textos quando um
deles faz referência a elementos existentes no outro, de maneira explícita ou
implícita.
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